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SIGNIFICADO E INTENCIONALIDADE: COMO INSPIRAR NOSSOS CLIENTES A CONTINUAREM A PRÁTICA DO EXERCÍCIO FÍSICO

SIGNIFICADO E INTENCIONALIDADE: COMO INSPIRAR NOSSOS CLIENTES A CONTINUAREM A PRÁTICA DO EXERCÍCIO FÍSICO
Thiago Pimenta
jan. 28 - 8 min de leitura
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Você sabe quantos brasileiros praticam exercícios físicos regulares? Bem, sua resposta dependerá do que você está lendo e de quando você leu, ou mesmo, do que deseja ler.

 Veja: o relatório da Pesquisa Nacional de Domicílios (Pnad) de 2015 (já um pouco desatualizado), indica que 100,5 milhões de pessoas não faziam nenhum tipo de exercício.

Já, a pesquisa de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico (Vigitel, 2017) – desatualizado também – afirma que, no Brasil, a quantidade de pessoas que pratica exercícios físicos aumentou 24%. Mas evidenciou que 45,8% da população brasileira ainda não pratica exercícios físicos regulares e apenas 23,3 % das crianças de até 8 anos praticam atividade física regular.

Estudo da OMS de 2018 revelou que, no Brasil uma a cada duas pessoas não pratica exercícios físicos regularmente, ou seja, quase metade da população brasileira é sedentária.

De qualquer forma, aparentemente observamos sim, um crescimento de praticantes, contudo, o grande problema é o que realmente nossos clientes pensam ser e significar o exercício físico. A resposta à esta questão, é a mesma que nos permite descobrir o segredo da “adesão e aderência”, tanto estudado por nossos acadêmicos.

Quando trago a palavra “significado” refiro-me à ideia do que realmente significa para nosso aluno/cliente exercitar-se. O que ele(a) pensa com isso? O que ele(a) quer com isso? Seja em uma perspectiva estruturalista,  fenomenológica ou semiótica. Este caminho me leva diretamente à outro conceito importante: o de intencionalidade. Afinal, qual a intenção de nosso aluno/cliente ao exercitar-se? Daí as coisas ficam mais complicadas, pois este conceito pode ser muito filosófico.

De qualquer forma, dois pontos são fundamentais aqui: qual significado possui o exercitar-se e qual a intenção do exercitar-se para nosso aluno/cliente. Assim, ao final das contas nos perguntamos: como estamos contribuindo para mantermos nossos clientes inspirados?

Para dar continuidade ao caminho que quero traçar, primeiro é fundamental que nós, profissionais de Educação Física, nos resignemos à nossa humildade, afirmando nossa dificuldade tremenda em inspirar nossos clientes. Perceba que procuro avançar aqui quando proponho falar de “inspiração”. Nem sempre o ato de ensinar um exercício, elaborar um bom plano de treinamento inspira nosso aluno a continuar sua prática.

Vejamos: Você faz todo protocolo certo? Conversa, avalia, diagnostica, planeja, prescreve, é simpático, age com ética e possui grande competência técnica, certo? Ok. Contudo, ainda continua com a busca incessante e com o medo servil de perder alunos. Bem, isso não vai mudar tão cedo e este texto não vai te ajudar a ficar rico, mas talvez te ajude a refletir sobre sua conduta.

Veja bem, temos a sorte de viver em um país que, por questões geográficas e culturais, permite fácil acesso às práticas de exercícios físicos, contudo, esta facilidade, associada à quantidade de academias, espaços para exercícios em geral, sejam pagos ou não, não condiz com a quantidade de sedentários.

Minha linha de raciocínio hoje, quer refletir sobre o que estamos ensinando. Perceba que não quero refletir sobre “como”, mas sim, “o quê” estamos ensinando, desenvolvendo e trabalhando.

Fato – já visto em alguns estudos – que muitos dos que praticam exercícios físicos se condicionam pelo viés de “saúde”; “qualidade de vida”; “estética”; “relacionamentos”. Afinal, se todos estes fatores realmente fossem os buscados por nossos alunos/clientes, não precisaríamos nos preocupar com evasão, desistência, abandono e falta de inspiração. Então, onde está o equívoco? Ora, quantas vezes você perguntou à seu cliente: “qual seu objetivo”? Talvez sejamos os únicos profissionais da saúde que condicionamos nossa prática de acordo com os desejos de nossos clientes. Claro que quem busca o nutricionista ou o médico querem algo, mas eles buscam uma relação dialética muito maior do que nós, profissionais de Educação Física.

Quando falo dessa relação afirmo que há um limite nos desejos de nossos alunos que, se não for demarcado claramente pelo profissional, ele torna-se refém.

Tentarei ser mais claro: Estamos em um momento em que as tecnologias de informação, novos aparelhos e novas estratégias de treino inundam o mercado de “mais do mesmo”, colocando o fator humano como condição sine qua non de nossa intervenção, mas, mesmo assim, tendemos a confiar demais nestas inovações – muito interessantes por sinal – e nos esquecermos do princípio básico do treinamento físico: Ser melhor. O exercício físico, traz consigo o valor mimético da força, temperança, foco, humildade, disciplina, resiliência e outros tantos valores necessários ao cotidiano. É com o exercício físico que o “Conhece te a ti mesmo” ou o “torna te quem tu és” pode ser visto em sua mais bela expressão prática quando estamos treinando.

Pois bem, o que quero colocar em xeque aqui é exatamente esta falta de condução dialética. Muitos de nós, no afã de querer mostrar nosso capital técnico, nos esquecemos de realmente criar um significado e evidenciar o sentido de exercitar-se para nosso aluno/cliente. Talvez um dos maiores exemplos disso, está na falácia da “Saúde e qualidade de vida”. Você sabe com certeza que o exercício físico é apenas uma das variáveis destes conceitos, certo? Assim, você também sabe que apenas o aumento de massa muscular, redução de gordura corporal, medidas, portanto é correspondente à apenas 0,01% (chutei) disso tudo, certo? É, finalmente chamei sua atenção.

Colegas, estamos contribuindo muito pouco para com a saúde e qualidade de vida pelo viés do exercício físico. Não quero que você saia de suas competências – afinal de contas você nem pode fazer isso – mas quero que você entenda que  há um mundo de possibilidades – mais velhas do que andar para frente – aguardando para serem reutilizadas. Veja só: Quantas vezes você conseguiu conciliar em seus planos de treinos uma boa quantidade de qualidades físicas de base como força (de velocidade, de resistência, geral), resistência (aeróbia, anaeróbia), flexibilidade, velocidade de movimento, velocidade de resposta?

Impossível, não é? Difícil, não impossível. Bom exemplo disso são locais de cross training. Sem sombra de dúvidas, a quantidade de variáveis trabalhadas atraem os alunos. Vejamos outro bom exemplo. Nós que estudamos treinamento sabemos da existência de um programa Soviético que tinha como objetivo o desenvolvimento da preparação física para todos os cidadãos, chamava-se Gotov k trudu i obarone ou GTO, algo como “Pronto para o trabalho e para a defesa”. Um programa de políticas públicas que mobilizou toda a população às práticas de exercícios físicos voltados à todos os condicionantes.

É evidente que estamos falando de um programa de fundo político significativo, contudo, é importante ressaltar que os soviéticos foram um dos primeiros a entenderem que os exercícios deveriam ser também uma conquista de todos. Por favor, não tomem esta afirmação de forma política, pois não é, mas um olhar sobre a história da preparação física, nos remete inevitavelmente à este programa.

Não quero com isso que você saia defendendo o GTO, não é isso. Quero sim, que você reflita se realmente seus treinamentos estão servindo para inspirar seus alunos/clientes a manterem-se na prática de exercícios físicos como algo que faça parte de seu habitus e que esteja além de seus desejos iniciais. Não inspirar a mantê-los realizando exercícios simplesmente, mas inspirá-los a manterem uma rotina de treino que contemple grandes possibilidades de desenvolvimento das qualidades motoras e físicas, que permita que compreendam o que significa treinar e que seus “desejos” são apenas pequenas manifestações do ato de perseverar em sua rotina diária de treino, pois um dia a inspiração acaba, mas o que o fará continuar é a disciplina.


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