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É possível baixar o tempo de uma maratona para menos de 2 horas? A ciência diz que sim e já deu até prazo!

É possível baixar o tempo de uma maratona para menos de 2 horas? A ciência diz que sim e já deu até prazo!
Sara Crosatti Barbosa
out. 7 - 7 min de leitura
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Quando será a quebra da barreira das 2 horas em uma maratona oficial? Será possível calcular e prever um recorde?
Nesse texto, vamos entender que, as vezes, nem a ciência é capaz de prever o desempenho humano.

Em 2017, a Nike foi responsável por financiar um evento chamado “BREAKING 2”, com objetivo de que o primeiro ser humano quebrasse a barreira de 2 horas para completar uma maratona.

O humano escolhido foi Eliud Kipchoge, hoje com 35 anos, queniano, fundista, campeão olímpico e mundial em provas de pista e o maratonista que detém o recorde de maratona com 2:01:39, em Berlin, 2018.

A marca esportiva foi responsável por colocar na cabeça dos apaixonados por esporte, que a barreira para o homem completar 42.195 km abaixo de 2 horas era possível.

Foi preparado um evento especial, com diversas variáveis controladas como: circuito com o mínimo de variação de altimetria na cidade de Monza, com carro corta vento, pacemakers para cortar o vento e manter Eliud no ritmo específico e clima ideal com temperatura baixa e umidade favorável, uma equipe de fisiologistas e claro, um tênis específico com placas de carbono e espuma reativa, desenhado especificamente para Eliud bater a marca das 2 horas.

Embora o evento ter sido fantástico e Eliud ter se tornado o homem mais rápido da história, ele completou a maratona em 2:00:26. Em 2019, o evento aconteceu novamente, só que com o nome de INEOS 1:59 Challenge, em Viena, no mesmo modelo do anterior, com correções de alguns detalhes como a inclusão de alguns pacemarkers para corrigir o vento e, claro, um novo modelo de tênis Nike.

Nesse evento, Eliud conseguiu completar os 42.195 km em 1:59:40, tornando-se o maratonista mais conhecido na atualidade e o homem mais rápido. Só lembrando que esse tempo não é considerado recorde mundial pela World Athletics (WA), foi somente apelo de marketing de marcas. Para ser considerado recorde, precisa ocorrer em evento reconhecido pela WA, com regras e percursos específicos.

As variáveis para a quebra de recordes e desempenho acima da média em maratonas

Mas o que me chama atenção é, que após esses eventos, houve certo fascínio pela quebra de recorde em maratonas. Ainda que 2020 seja um ano atípico, as poucas maratonas que ocorreram, ainda que exclusivas para elite, foram carregadas pela esperança da quebra do recorde mundial de 2:01:39 de Eliud Kipchoge.

No entanto, as pessoas não compreendem o que é uma quebra de recorde e que não ocorre a todo momento, não são controladas, são eventos únicos, específicos e inesperados. O atleta não chega para correr e diz: “hoje vou bater o recorde mundial”. É um evento histórico e dependente de inúmeras variáveis fisiológicas, psicológicas, ambientais.

Então, para entender melhor as variáveis relacionadas a um recorde, vamos há alguns estudos que avaliaram as possibilidades desse tipo de evento em maratonas.
 

Africanos estão, literalmente, passos à frente quando o assunto é maratona

O primeiro estudo comprova o fato que vemos na prática que africanos são a elite da maratona atualmente e detentores dos recordes mundiais em longa distância. Fatores como genética e ambiente de treino são fortemente correlacionados a esse sucesso. Um estudo avaliou os 90 melhores maratonistas africanos e 90 melhores maratonistas não africanos, entre 2001-2015 quanto à: idade, desempenho e duração da carreira.

Encontraram que os maratonistas africanos se especializaram, atingiram níveis máximos de desempenho e se aposentaram mais cedo do que os maratonistas não africanos. Africanos eram mais rápidos nos mesmos momentos da carreira e no desempenho de meia maratona, sem diferença no número de maratonas corridas ao longo da carreira entre os grupos, mas os maratonistas africanos correram com mais frequência do que os maratonistas não africanos.

Os autores sugeriram que os maratonistas africanos de elite alcançam um maior nível de desempenho em idades mais jovens do que os seus colegas não africanos (Noble, Chapman, 2018).
 

A ciência prevê quando a barreira das 2 horas será quebrada e já cravou uma data: 2026

Outro estudo apresentou um modelo matemático para estimar o ano possível em que um homem poderia romper a barreira de menos de 2 horas da maratona, e uma estimativa de quando uma mulher poderia quebrar o recorde de maratona de Paula Radcliffe, britânica, 2:15:25 em Londres, 2003.

Além disso, os autores apresentaram vários aspectos sobre fisiologia, nacionalidade, idade, biomecânica, ritmo e tiragem associados ao desempenho de maratona em corredores de elite, e as possíveis características do homem que correrá a maratona em menos de 2 horas.

Em resumo, com os resultados das equações desenvolvidas, é possível que um atleta do sexo masculino possa romper a barreira de menos de 2 horas em 2026 com a ajuda da tecnologia do tênis da Nike, e em 2027, sem a participação da Nike. Este maratonista possivelmente terá um VO²max > 85 ml.kg.min (possível para um africano) e deverá realizar a prova a uma velocidade acima de 85% do seu VO²max oxigênio.

O atleta ainda deverá treinar força, força de resistência, velocidade, e os treinos deverão ocorrer em intensidades acima do limiar anaeróbio. O que os autores destacam é que, muito provavelmente, este corredor é originário da África Oriental (especialmente da Etiópia) e terá uma idade de aproximadamente 27 anos. Os autores relataram que, para as mulheres, há poucas evidências sobre o perfil fisiológico da maratonista que quebrará o recorde de Radcliffe, mas a literatura disponível sugere que isso não acontecerá tão cedo (Sousa, Nikolaidis, Rosemann, Knechtle, 2018).

Mas, como esporte é uma caixinha de surpresas, os autores mal sabiam que, no ano seguinte, em 2019, Bidgid Kosgei, queniana, inesperadamente, bateria o recorde mundial de Paula Radicliffe, completando a maratona de Chicago, em 2:14:04. Reafirmando o que mencionei acima, recordes no esporte são inesperados.

Na minha opinião, com a tecnologia dos tênis de corrida atuais, veremos a quebra das 2 horas antes de 2026. E aí, qual é sua aposta?

 

*Os textos produzidos pelo colaborador não expressam, necessariamente, a opinião dos outros participantes da comunidade, sendo 100% de responsabilidade do autor.

 

Referências:
Noble TJ, Chapman RF. Marathon Specialization in Elites: A Head Start for Africans. Int J Sports Physiol Perform. 2018 Jan 1;13(1):102-106

Sousa CV, Nikolaidis PT, Rosemann T, Knechtle, B. How much further for the sub-2-hour marathon?Open Access J Sports Med. 2018; 9: 139–145


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