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Qual será o cenário da atividade física pós-pandemia?

Qual será o cenário da atividade física pós-pandemia?
Sara Crosatti Barbosa
set. 9 - 7 min de leitura
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A esperança do surgimento de um novo mundo e de uma vacina libertadora para os próximos meses nos faz criar expectativas para um mundo pós-pandemia.

Mas, antes de falarmos do futuro, temos que entender o presente.

E quais são as expectativas da Educação Física e do esporte pós-coronavírus?

Olhando para os índices da pesquisa brasileira VIGITEL de 2018, publicada em 2019, 55,7% da população adulta apresentou excesso de peso e 19,8% obesidade que somados resultam em 75,5% de sobrepeso e obesidade no país (lembrando que são dados de 2018, tonando-se ainda mais preocupante).

Sobre atividade física no Brasil, 39% adultos relatam praticar regularmente e esse percentual diminui com o passar dos anos (49,4% entre 18-24 anos e 24,4% acima dos 65 anos).

Em relação ao consumo de alimentos recomendados, 22,9% relataram consumir frutas e hortaliças e 29,8% consumo de alimentos não ou minimamente processados, contra 18,2% que consumiram alimentos ultra processados (deixo claro que os dados alimentares apresentados também me parecem contraditórios).

Ainda que os números falem por si, sabemos que estamos caminhando para números cada vez maiores de sobrepeso e obesidade, gerando alto risco de doenças metabólicas, inclusive em crianças e jovens. Aos meus olhos, o processo de sedentarismo e obesidade parece ter sido acelerado com a pandemia.

O medo (ou pânico) da contaminação, o isolamento social imposto desde março e parece que não acabará nunca, apresentam um cenário totalmente apropriado para o consumo excessivo de alimentos (já que mercados e padarias são os únicos locais que, surpreendentemente, apresentam “regras brandas” de distanciamento social) e aumento de sobrepeso e obesidade, e imposição do sedentarismo.

O mesmo estende-se para crianças e adolescentes, que são reflexos alimentares dos pais, adicionados de baixíssimo nível de atividade física, aulas online e pais em home office.

Qual o papel da educação física diante disso tudo?

Diante do cerceamento da liberdade imposto pelo isolamento social, profissionais de educação física buscam brilhantemente e incessantemente ajudar as pessoas a movimentar o corpo e equilibrar a alma (“mens sana in corpore sano”) com atividades online, ao ar livre, em condomínios, academias quando possível, mas confesso que as forças do medo e da insegurança parecem maiores.

Recomendações americanas, europeias, inúmeros artigos científicos insistem em estimular a prática de exercícios físicos durante o isolamento, recomendando atividades em casa ou no bairro, em parques e praças.

Novas diretrizes recomendam que as atividades ao livre com distanciamento social sejam mantidas (ACSM). Mas parece que autoridades de saúde nacionais não tem acesso a tais informações e isso é preocupante para o futuro da saúde.

Atividades ao ar livre em bairros ou em parques tornou-se pouco mais aceitável, a quem diga que é um desrespeito ao próximo. O conforto de uma sociedade acomodada e com inúmeras justificativas atuais para o sedentarismo e obesidade, parece tornar-se o “novo normal”.

Crianças, reflexos de seus pais, são cerceadas de brincar ao ar livre devido ao medo e insegurança imposta por autoridades desatualizadas. Temo que os adultos tornem-se tão isolados a ponto de que a farmácia, o supermercado e a padaria sejam a rotina semanal de atividade física (aos meus olhos essa é a condição atual de muitos).

Por outro lado, observando a prática de exercícios físicos durante a pandemia, pessoas que gostam e desejam manter a rotina de exercícios físicos continuaram a se exercitar utilizando parques, praças, ou atividades online.

Uma pequena parcela que não tinha tempo para a prática, viu na pandemia o momento ideal para começar a rotina de exercícios, seja online, ao ar livre ou em academias.

Há ainda uma parcela que começou a se exercitar para cuidar da saúde, tendo em vista que autoridades de saúde relatam que pessoas com IMC abaixo de 30 e melhor aptidão física parece apresentar menor risco de complicações pelo COVID-19 (mas não há incentivo para cuidados para manter ou melhorar a aptidão física e cuidar da alimentação). No entanto, o preocupante é a maioria que usam a pandemia para continuar justificando o sedentarismo.

E a educação física? Ela continuará enfrentando um árduo caminho na tentativa demonstrar seu grande valor relacionado à saúde e bem estar, ainda que driblando as questões econômicas envolvidas aos prestadores de serviços “não essenciais”!

E para o esporte? Quais são as perspectivas?

Uma matéria recente da FORBES (28 de agosto de 2020) apontou alguns pontos preocupantes sobre o futuro do esporte nos EUA:

  • Ameaça financeira: o esporte representa a 11ª maior fonte de receita dos EUA;
  • Ameaça médica: embora os atletas sejam jovens, as consequências da ação do COVID-19 no organismo em longo prazo são desconhecidas e o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) relatam que pessoas com IMC acima de 30 são mais vulneráveis as complicações causadas pelo vírus (300 jogadores da NFL apresentam mais de 130KG);
  • Ameaça à tradição e normalidade: além de torcedores aflitos pelo espetáculo, empresas, funcionários e demais pessoas que vivem da renda do esporte estão sem perspectivas;
  • Ameaça do esporte amador, esportes juvenis e saúde infantil: o esporte entre amadores está ameaçado, ligas extracurriculares estão ameaçadas com torneios e temporadas canceladas.

As mesmas preocupações americanas estendem-se ao Brasil. Ainda que as atividades esportivas estejam retomando mundialmente, com os acentos vazios na plateia, e redução na arrecadação de milhões, sem falar nos autônomos que tinham suas rendas oriundas de eventos esportivos, parece que o futuro de alguns esportes continua desconhecido.

O esporte de base brasileiro, um país com dimensão continental, o número de projetos voltados para categoria de base e formação no esporte é mínimo, e normalmente, sustentado com ajuda do setor privado, adicionado ao medo e insegurança de retomar aos treinos antes da vacinação, colocam em risco o futuro do esporte de base nacional.

No esporte profissional nacional, sem falar do futebol, outros atletas e esportes são ameaçados pela incerteza de retorno e apoio financeiro, como esportes de combate, atletismo e outros que são pouco incentivados.

Projetos sociais amparados pelo setor público, com incentivo do esporte para todos, seguem as mesmas incertezas, medo e insegurança, adicionado à necessidade de direcionar o foco para o essencial e, talvez sejam prejudicados (o esporte pode não ser algo essencial para alguns estados e municípios, infelizmente).

Pensando no cenário pós-pandemia, vejo grandes desafios para os profissionais de educação física em ajustar-se a mudanças e continuar o trabalho diário de incentivo a uma vida ativa.

Penso que autoridades responsáveis por saúde pública terão uma enorme responsabilidade em aconselhar, com segurança, a necessidade de prática de atividade física, na tentativa de reverter o sedentarismo e obesidade em crescimento exponencial.

No esporte nacional, não vejo boas perspectivas e temo que o incentivo seja ainda menor e mais restrito a esportes da elite.  Penso que a vacina não trará o acalanto esperado, e teremos que entender que nossas vidas terão que ser adaptadas, não ao “novo normal”, mas talvez a “novos tempos”.

 

*Os textos produzidos pelo colaborador não expressam, necessariamente, a opinião dos outros participantes da comunidade, sendo 100% de responsabilidade do autor.


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