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Abordagem ao Cliente no País do Homem Cordial: Será que um bom treino é o último ponto a ser considerado?

Abordagem ao Cliente no País do Homem Cordial: Será que um bom treino é o último ponto a ser considerado?
Thiago Pimenta
nov. 10 - 8 min de leitura
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Homem Cordial é um conceito desenvolvido pelo historiador brasileiro Sergio Buarque de Holanda e refere-se às raízes de comportamento do povo brasileiro que advém de sua gênese rural e patriarcal, onde a polidez do tratamento com o outro não é uma virtude em si, mas define-se, em nosso caso, à incompreensão da distinção entre o público e o privado. Daí vem a dificuldade de sermos formais em nosso ambiente de trabalho.

A Educação Física, dentre todas as áreas da saúde, é a profissão mais nova. Teve a sua regulamentação no dia 1 de Setembro de 1998 sob a Lei N˚ 9696/98 e com a criação dos respectivos Conselho Federal e Conselhos Regionais.

Levando em consideração tal fato, antes dessa regulamentação e até hoje, porém de uma forma menos impactante, a informalidade assola a área da Educação Física. Ou seja, mesmo com a regulamentação da profissão ainda existe informalidade? Sim! Assim como em várias outras profissões existem as informalidades, nessa área também não é diferente.

Quando falo de tal tema, traço um curso pelo viés do empirismo e, quando falo empirismo, é pelo viés negativizado do termo (tentativa e erro), amadorismo. Por quê?

Bom, existem milhões de praticantes de exercícios físicos no mundo inteiro. Dentre eles, os que praticam exercícios de formas recreacionais/saúde, esportes, musculação, aulas coletivas e etc.

Os praticantes de exercícios físicos amadores são pessoas que buscam alguma performance para campeonatos, levantamento de peso, futebol, basquete, dentre outras modalidades. Praticantes de exercícios de alta performance são os que visam apenas o rendimento, ou seja, atletas de elite, e é esse público também que faz da nossa área um meio ainda com uma parcela informal.

Quando você faz muito uma coisa por anos, todos os dias, é inquestionável que você fica bom naquilo, certo? Sem sombra de dúvidas que sim! E quando você para de fazer aquilo, na sua cabeça você está apto a ensinar aquilo, correto? Parcialmente!

A informalidade na nossa área está, não apenas na conduta dos profissionais, mas também pelo fato do “se eu fiz aquilo por muitos anos, eu posso ensinar também“. Pode? Pode, mas deve-se levar em consideração a ciência e a atualização das informações.

O perigo, no caso do ex-atleta, é apenas reproduzir o que lhe foi passado por anos e que muitas das vezes já está defasado. Mas o que eles trazem com eles de uma forma muito atenuada até os dias de hoje?

O que isso tem a ver com o título?! Tá certo! Vamos lá.

Quando falamos em informalidade da profissão nós devemos olhar por um ponto muito delicado e que vejo na prática uma certa banalização desse quesito. O "atendimento" ao cliente.

“Ah! mas que o atendimento deve ser de qualidade, isso todo mundo já sabe”.

Opa! Sabem, mas o fazem? O que está enraizado na cabeça de muitos sobre o que é um bom atendimento? Cliente chega na academia e:

Professor: Bom dia! Tudo bem?

Cliente: Bom dia, professor. Vou bem, e você?

Professor: Vou bem também! Bom, vamos lá então? Qual é o seu objetivo na academia? Tem algum problema de saúde?

Cliente: Meu objetivo é emagrecer e não tenho nenhuma doença.

Professor: Ótimo, pode ir aquecer na esteira de 10 minutinhos que já iniciamos o treino.


E pronto, isso é um bom atendimento na cabeça de muitos por aí. A metodologia “abatedouro”. Um método onde o que importa é o corpo, o físico, sem se importar com o que a pessoa pensa ou passa ou com sua continuidade.

Levando em consideração tudo isso, o objetivo desse texto é mostrar como estamos ainda defasados com métodos amadores quando falamos em abordagem ao cliente.

As pessoas não se programam para ir a academia, as pessoas simplesmente vão! E muitas das vezes por alguma “dor” e, quando falo "dor", estou falando por algum trauma, uma calça que não entra mais, aquela brincadeira com o filho(a) que antes era tranquila, deixou de ser, um pós operatório onde o médico disse que o treinamento é necessário para a manutenção da saúde e etc.

Cada um tem seu objetivo, sua dor, logo, quando uma pessoa vai até você, seja na academia ou seja como personal, essa pessoa está procurando o que? Ajuda! Ela quer a SUA ajuda para aquela dor que ela sente, essa pessoa quer poder entrar naquela calça, quer poder jogar uma bola com seu filho, ou jogar final de semana com os amigos sem se machucar, quer poder se olhar no espelho de uma forma mais otimista. Quer ser acolhida. Contudo, quando essa pessoa chega até os professores, o que acontece? O efeito abatedouro.

Quando se tem o entendimento de que devemos olhar para pessoa de uma forma global, a abordagem muda.

Professor: Bom dia! Tudo bem?

Cliente: Bom dia, professor. Vou bem, e você?

Professor: Vou bem também! Bom, vamos lá então? Qual é o seu objetivo na academia? Tem algum problema de saúde?

Cliente: Meu objetivo é emagrecer e não tenho nenhuma doença.

Professor: Ótimo! Então Fulano, o que te motivou a procurar uma academia? Qual foi gatilho que fez você vir nos procurar? Você atualmente trabalha? Se sim, trabalha com o quê?

Cliente: Então, professor, eu vi uma roupa no shopping e quero poder usá-la mas estou acima do peso. Trabalha em um setor administrativo de uma empresa e ando muito estressado(a).

Professor: Certo, entendi. Bom, estamos aqui para te ajudar a alcançar esse objetivo, de primeiro momento não quero que você se preocupe com alimentação, preciso inicialmente que você tenha uma boa frequência na academia, até porque não posso exigir muito de você nesse momento pois já anda estressado(a) devido ao trabalho e não vou sobrecarregar você, dizendo que tem que buscar um nutricionista e afins, até porque seu estresse está alto e seu cortisol, provavelmente também está, e isso prejudica seus resultados. 

Isso foi uma conversa genérica, não precisa ser nessa ordem e tudo de uma vez, pode ser segmentada, em um dia aborda-se uma coisa, no outro dia outro ponto e assim sucessivamente. O entendimento aqui é que deve-se atentar que a adesão à atividade física é um processo educativo que requer tempo e paciência do professor e saber fazer a gestão das pessoas.

A visão holística falando no fitness realmente é algo que demanda esforço do profissional, principalmente para quem trabalha em sala, na parte do personal é mais fácil. Entretanto, se faz necessária essa persuasão para os profissionais da área terem mais respeito.

Mas, como falado inicialmente, essa abordagem holística também é um processo educativo para os profissionais e que levará tempo, mas para você, que já tem essa concepção, já é um passo à frente.

Produção de texto auxiliada pelo Estagiário Matheus Gabriel Lima. Unibrasil Centro Universitário – Curitiba/PR.

 

*Os textos produzidos pelo colaborador não expressam, necessariamente, a opinião dos outros participantes da comunidade, sendo 100% de responsabilidade do autor.


REFERÊNCIAS

ALCADIPANI, Rafael. Academia e a fábrica de sardinhas. Organizações & Sociedade, v. 18, n. 57, 2011.

HOLANDA, Sérgio Buarque; EULÁLIO, Alexandre; RIBEIRO, Leo Gilson. Raízes do brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.


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