Quando pensamos em "relógio biológico" é natural imaginarmos uma vida longínqua, saudável e autônoma de envelhecimento, porém, não é bem assim que as coisas estão acontecendo ultimamente. Um levantamento realizado por Araújo Júnior (2019), demonstrou que o cenário pode ficar catastrófico se não alterarmos alguns hábitos corriqueiros. A população idosa irá quadruplicar na próxima década, e com um índice de 38,5% dependentes e 25,6% acamados. Isso mudará totalmente o cenário social e forçando uma restruturação de atuação profissional dentro do mercado fitness.
O atual processo de envelhecimento fragilizado e semi-dependente, é um dos desafios encontrado pelos profissionais que optaram por atuar com esse público-alvo, e por isso os estudos referentes aos telômeros estão aumentando significativamente no âmbito cientifico nos últimos anos. Segundo Ortiz-Ramírez (2018), os telômeros são estruturas protetoras que tentam barrar o desgaste do material genético e manter a estabilidade estrutural do cromossomo. Seu encurtamento já está evidentemente associado a doenças degenerativas crônicas, como diabetes, obesidade e hipertensão.
Entretanto, o encurtamento do "relógio biológico" de seu cliente não está ligado aos fatores degenerativos de determinadas doenças apenas. Outros fatores podem impactar na fragilização, como os hábitos ruins do dia-a-dia, por exemplo. Shammas (2011) aponta que manter hábitos ruins podem estar entre os principais responsáveis pelo encurtamento dos telômeros, e consequentemente, aumentando o risco de doenças e acelerando processo de erosão do "relógio biológico". São eles:
- Manter um estilo de vida Sedentário;
- Níveis elevados de estresse;
- Dieta com elevado consumo de gordura, açúcar, sal e alguns carboidratos;
- Consumo frequente de álcool e tabaco.
Pensando em achar novos "vilões", Zhao (2013) aponta que as inflamações crônicas desencadeadas por dor, lesão e estresse, podem causar uma sobrecarga o processo de replicação celular, diminuindo o tamanho dos telômeros. Inflamação e exercício físico são palavras que aparecem bastante na rotina dos profissionais do fitness, porém, não se deve esquecer de utilizá-los com cautela e equilíbrio.
Visto que grande parte dos treinamentos mais tradicionais utilizados pela maioria dos profissionais seguem uma predominância tensional (microlesões), o processo inflamatório é constantemente presente devido ao processo regenerativo da celula danificada. Silva (2009), argumenta sobre a importância e cuidado na "fase de destruição" da fibra muscular do cliente iniciada através do exercício físico. É nesta fase que ocorre a formação de hematomas entre as miofibras rompidas e da ativação inflamatória através do sistema imunológico.
Por isso é tão importante ter um controle dos níveis e graus de lesão que está desenvolvendo ao seu cliente, pois o processo de "overtraining" pode ser outro vilão contra os telômeros dele. Budgett (1999) já mostrou como os treinos muito volumosos, intensos e com descanso insuficientes, podem iniciar uma "cachoeira inflamatória", atingindo de forma prejudicial todo sistema imunológico, e consequentemente o "relógio biológico".
Lembre-se: treinar irá sim lhe auxilar na manutenção do processo de autonomia e qualidade devido no envelhecimento do seu cliente, desde que seja sem exageros e respeitando o processo de recuperação do organismo nos diferentes momentos da vida.
Não inventei:
Araújo Júnior, F. B. Fragilidade, perfil e cognição de idosos residentes em área de alta vulnerabilidade social. Ciênc. saúde coletiva 24 (8) 05 Ago 2019.
Ortiz-Ramírez. Telomere shortening and frailty in Mexican older adults. Japan Geriatrics Society, 2018.
Shammas MA. Telomeres, lifestyle, cancer, and aging. Curr Opin Clin Nutr Metab Care 2011; 14: 28–34.
Zhenrong Zhao. Telomere Length Maintenance, Shortening, and Lengthening. Journal of Cellular Physiology. December 2013.
Silva, Edson da. Microlesões celulares induzidas pelo exercício físico e respostas adaptativas no músculo esquelético. Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - 2009